Fluiram os dias e os meses, as emoções, assim como as estações, acomodaram-se às variações dos tempos e dos alentos. O que a mente esboça, o corpo rasura. Rodopiam intransigentes as palavras soltas, à procura do seu par de dança perfeito. Talvez o encontrem entre sinapses eufóricas, talvez a pulsação se acalme e as frases se aglomerem pomposas e eruditas.
Esfumaram-se os anos, e com eles, a solenidade da escrita criativa, enebriada pelos goles de polpa linguística, adoçada pelo néctar carnudo das obras primas literárias.
Adormece a ânsia de exprimir e expremer as vivências, as sonoridades dos pensamentos e o silêncio da inquietude. Guardam-se folhas soltas, num lugar acomodado para o efeito, à espera de um dia lhes voltar a tingir a alma.
A escrita apenas discorre quando é o âmago da vida que nos guia. Amadurecemos a subtileza dos gestos, purificamos a consciência e a atenção, organizamos a memória e as emoções.
Livremente, espontaneamente, naturalmente, a mão volta a traçar os textos mais sentidos.
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