segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

From Madeira Island, with love [2]




A minha mente vibrante esboçara durante longos dias uma atmosfera exótica e delicada, cujo perfume floral pincelava majestosamente as escarpas da costa. Sinapses cerebrais irrequietas esquissavam gotículas cintilantes de orvalho, a levitar solenemente sobre as brumas florestais.

Na verdade, fazia frio e vento e as nuvens, teimosas, pairavam volumosas sobre as nossas cabeças. Estávamos em Fevereiro, Em Portugal Continental arrepiavam-se as pontas dos dedos gretadas, fragilizadas pelo longo inverno. Na ilha das levadas, a maresia cálida africana amenizava a aragem fresca das serras.

Uma rápida passagem pelo Caniçal e seguimos em direcção ao que seria o primeiro encanto: a ponta de São Lourenço. Este local de encontro dos mares do sul e do norte, de beleza ímpar, caracteriza-se pela sua textura árida e pela dicotomia de águas agressivas e serenas que neste lugar remoto se mesclam maravilhosamente. Aqui, o mar sopra solitário, por entre formações de origem vulcânicas e brotes de vida raros e peculiares, endémicos da península. Esta região difere da restante ilha na flora e na fauna, tornando-se uma reserva natural de valor incalculável. Previmos uma caminhada calma pela ponta leste da ilha, para apreciar a beleza da zona, no entanto, o vento forte e o atraso do voo fizeram com que não nos demorássemos como previsto. Um olhar entusiasmado a norte sobre a "ilha dourada" e a sul sobre as Desertas e seguimos viagem.

A chegada à Santana faz-se por túneis horrendos que rasgam grosseiramente a paisagem imponente. Esta pequena vila é conhecida pelas suas casinhas típicas e graciosas. Surgem belas nos postais e nos sites de viagem e uma desilusão amarga no seu habitat anti-natura. Réplicas desconexas, desenquadradas, símbolos de um kitsch turístico massificado. Compreende-se a busca exímia de perpetuar uma importante herança tradicional da ilha, mas a localização urbana e desprovida de ruralidades, torna o espaço monótono e desinteressante.

Em Santana, a maior expectativa prendia-se com o arrebatador teleférico da Rocha do Navio. Tinha visto imagens inacreditáveis quando fizera pesquisas sobre lugares imperdíveis na ilha. Trata-se de um teleférico que desce abrupta e vertiginosamente sobre o mar, como se este nos engolisse a pouco e pouco enquanto nos deliciamos com a vista assombrosa. O acesso faz-se por estradas estreitas que atravessam zonas campestres e que, inesperadamente me surpreenderam com o vislumbre de uma e outra casinha genuína de Santana, semeadas pelos campos despidos. Possuem cores esbatidas e desgastadas pelo tempo, ao contrário das casas do centro, coloridas e paparicadas, mas, na minha opinião, o esforço para a sua preservação é imensurável. 

A vista sobre a fajã, do cimo da falésia, antes de nos debruçar-mos sobre o mar, é deslumbrante. O meu coração não consegue descrever tão puro e tão profundo sentimento. A essência da mãe natureza, pura e selvagem, jorrava longos fios alvos e estrondosos pelas montanhas, com toda a sua força e imponência. Por instantes deixei de respirar para apenas sentir, para me afundar nesta grandiosidade majestosa e soberana, como humilde serva da deusa Terra. Se cerrasse os olhos, sorria para ela e para ti, meu amor, por te ter a meu lado perante tamanha beleza.

Descemos entusiasmados até aos bananais e vinhedos que as ondas beijavam enfurecidas. Inesperadamente avistamos o que nos pareceu ser um cachalote. O mosaico de cultivo aproximava-se sob os nossos olhares pasmados. Na pequena baía, perdi-me. Perdi-me a contemplar o mar revolto, perdi-me a sentir a falésia de cascatas estrondosas que invadiam ao oceano sedento, perdi-me na imensidão de rochas negras que silenciavam a fúria das águas.

Hoje, fico por aqui. Perdida.


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