terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

From Madeira Island, with love [3]


A Ilha da Madeira é conhecida indiscutivelmente pelas suas levadas e percursos pedestres. Percorrer alguns deles foi sem dúvida alguma um dos grandes propósitos desta viagem. Caminhar imersos na imensidão de uma floresta verdejante e distante da mão aniquiladora humana torna-se indispensável na nossa relação a dois, proporcionando um complemento de cariz saudável e apaziguador fundamental. A natureza belíssima acalma a nossa alma irreverente e nos proporciona momentos únicos de amor e serenidade. 

Seguimos destino girando em emaranhados de curvas e contracurvas, por entre escarpas trajadas de esmeraldas, faustosas e resplandecentes. A vegetação, densa e salpicada de gotículas delicadas de chuva, tapiza as altas montanhas do centro da ilha. As povoações isoladas, criam tufos de vida laboriosa e solitária. As gentes fazem-se simples e humildes, por estes lugares ermos. Não existem ruídos de uma sociedade escrava da tecnologia, de lixo processado que se ingere desmedidamente, de produtos borrifados de tóxicos que se cravam insaciados às nossas células e que nos sugam a essência límpida.  Aqui respira-se, vive-se, sem expectativas, sem desejos ou ilusões, sobrevive-se quando se anseia por civilização, quando as necessidades mais básicas e primitivas falham e o temor da ignorância e da monotonia fatigam o corpo exausto. Os rostos carregam a amargura de quem não conhece outro mundo. Por momentos invejei esta vida quase perfeita de mata e orvalho. Mas diante da imperfeição do isolamento que encarcera estas almas na rudeza da subsistência primária, cinjo-me à observação e à admiração de forasteira.

O percurso até ao fabuloso miradouro dos Balcões inicia-se no Ribeiro frio. Atravessámos sem pressa as ruelas galgadas por pequenas habitações campestres. À nossa passagem, galinhas atrevidas exibiam-se enquanto as gentes da terra se refugiavam na calidez do lar. Fazia frio e a chuva caía intermitente. A vereda é curta mas belíssima. Caminhámos admirando a flora indígena e exótica que se distribuía pitoresca pelas margens do trilho. As espécies viçosas características da floresta laurissilva cobriam-se de suaves fluidos resultantes do nevoeiro que nos envolvia.


O tempo escuro não nos demoveu de percorrer e vislumbrar esta tela impressionista, de cores vibrantes, esbatidas pela condensação atmosférica. A levada afunda-se sobre uma tela de gradações de verde, elegantemente tingida de orvalho luzente. Dele se avistam, em dias solarengos, os picos mais altos da ilha, o Pico Ruivo e o Pico Areeiro. Eu imaginei-os ao longe.
Sente-se o mar e o rio ao fundo do precipício, serpenteando a paisagem natural. Algumas aves fazem-nos companhias. Estamos apenas nós e eles. Longe de tudo e todos. A Madeira selvagem, silenciosa e amorosa.

O miradouro é uma balcão que coroa o paraíso.




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